domingo, 13 de junho de 2010

Abram alas para a Império da São Jorge

Texto LEONARDO CUSTODIO MACHADO



Mariela Rodrigues esbanjando simpatia
Samba, carnaval e muito agito tomaram conta da Universidade Feevale, em evento realizado durante a Intercom Sul, no dia 17 de maio, na Rua Coberta do Campus II. Sob a iniciativa dos acadêmicos da disciplina de Marketing e Produção Cultural, orientada pela professora Maria Alice Bragança, o projeto trouxe um resgate da memória e identidade da comunidade negra de Novo Hamburgo. A escola de samba Império da São Jorge, atual campeã do carnaval de Novo Hamburgo, apresentou o enredo que a consagrou neste ano: “Água fonte da vida, preserve este tesouro”. Contando com um repertório diversificado, a escola trouxe consigo um grupo de 15 membros, entre eles: músicos, o intérprete César Senna, a passista Josiane Vaz, a porta bandeira Mariela Rodrigues e integrantes da bateria, orientados sob o comando do mestre de bateria Fábio Nunes.

A verde e rosa do Bairro São Jorge mostrou para o público da Intercom Sul a alegria e o ritmo intenso do carnaval, um dos movimentos símbolos da cultura negra da região. Sob o compasso do samba enredo e da bateria nota 10 da São Jorge, Josiane Vaz e Mariela Rodrigues dançaram e cativaram a atenção da plateia, que respondeu a altura, participando e interagindo com a Escola.

Caçula das escolas de samba de Novo Hamburgo, a Império da São Jorge conta atualmente com 450 componentes, de acordo com o presidente Cléber Luis Moreira. Sobre a iniciativa da realização deste projeto cultural, que contou com a apresentação do grupo de capoeira da Associação Beneficente Evangélica da Floresta Imperial (Abefi) e do grupo de pagode Camisa Dez, Cléber Moreira afirmou: “Achei este evento muito importante, legal, porque faz uma interação da comunidade com o meio acadêmico, trazendo um pouco da nossa realidade para dentro da universidade. Acho que deveria ter mais eventos como este, foi uma boa iniciativa. Somos parceiros para estas atividades.”

A mais nova campeã

Sob a orientação do carnavalesco Sérgio Peixoto, a instituição fundada no dia 17 de setembro de 2004, já contabiliza resultados expressivos nas participações do carnaval de Novo Hamburgo. Além de ser detentora do título deste ano, a Sociedade Esportiva, Recreativa, Beneficente e Cultural Império da São Jorge obteve o terceiro lugar no ano de 2008 e a segunda colocação no carnaval de 2009. Neste ano, a Escola sagrou-se campeã pela primeira vez e, de quebra, conquistou o Estandarte de Ouro em nove das doze categorias avaliadas: diretor de carnaval, figurinista, melhor estandarte, harmonia, bateria, mestre sala, porta bandeira, passista masculino e passista feminino.

Carnaval e futebol na formação da história da etnia negra da região

O carnaval faz parte da história da etnia negra de Novo Hamburgo e da região, desde os carnavalescos do Bloco dos Leões, no final da década de 1920. É nesta época que surge o time de futebol Sport Clube Cruzeiro do Sul, mais precisamente no dia 18 de setembro de 1922. Formado somente por negros, a equipe teve sua primeira diretoria empossada no dia 22 de outubro do mesmo ano. Muitos dos integrantes do Cruzeiro do Sul participavam do Bloco dos Leões, que desfilava na Avenida Pedro Adams Filho durante as festas de carnaval. O bloco era marcado pela presença negra e contava, principalmente, com moradores do Bairro África (atual Bairro Guarani).

A necessidade por um espaço que propiciasse encontros, eventos, festas e atividades esportivas determinou a fusão entre o Bloco dos Leões e o Sport Clube Cruzeiro do Sul, surgindo a primeira associação negra de Novo Hamburgo: Associação Esportiva, Beneficente e Cultural denominada de Sociedade Cruzeiro do Sul.

O terreno e a sede situados no Bairro Primavera, em Novo Hamburgo, passaram a ser de propriedade da sociedade na década de 1940. A sede social do Cruzeiro do Sul abrigou durante muitos anos eventos e festas das famílias negras de Novo Hamburgo e arredores. Festas de aniversários, casamentos, batizados, almoços de confraternização e bailes marcaram a integração de muitas famílias negras.

O resgate da memória e identidade da comunidade negra de Novo Hamburgo passa pela história da Cruzeiro do Sul, mostrando a importância e o papel da cultura negra dentro do contexto histórico da cidade.

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